Analgésico
Enquanto nossas carnes se chocam com alguma ternura,
sinto sua perna direita tremer uma vez.
Puxo teu cabelo e com a outra mão aperto tua bunda, que
agora me é o horizonte.
Com o nariz apontando pra cima, você deixa escapar um
gemido abafado. Nunca estive tão dentro de você.
Teu cheiro doce flutua no ar.
Vejo a nuca e uma longa gota de suor escorre por ela.
O Sol invade pela janela e a luz gruda no teu corpo.
De leve, com a ponta dos dedos, percorro a cordilheira
que é sua coluna.
Com uma caneta que não existe, ligo com retas todas as
pintas das suas costas.
A gente se consome num silêncio acalentador. Não existe a
necessidade pro afago dito. Nossos sexos nos bastam.
O relógio pregado na parede. Os ponteiros no chão. Outro gemido.
Agora mais alto, mais de dentro.
Enquanto te preencho, o vazio no meu peito também se
enche.
Aquela minha dor não existe mais. Você é meu analgésico.
Num gozo sem anestesia, despenco sedado na cama.
Você ri, louca.
E monta no meu pau, ainda duro. Te sinto quente e mais
toda aquela umidade.
Gosto de sentir cada um dos teus joelhos apertando minhas
costelas trincadas.
Está na hora de outra dose. Você me cuida com zelo e
dedicação.
Você é minha médica. Minha cura e minha doença.