23.8.13

Respiração

Eu engulo tua respiração e entendo tudo o que está acontecendo com você, naquele momento.

Eu sei da insegurança.
Eu sei dos seus medos.
Eu também acho que tudo pode dar errado.

Sua cabeça baixa, mesmo assim teu hálito quente chega na minha pele, escala meu rosto. Nariz e boca entram na disputa por ele.

Na neblina que é você ao meu redor, algum murmúrio teu vai me dissipando desse estado de quase sonho.

Eu preferia não falar. Você insiste.
É importante, eu sei.
Quem dera não fosse.

Por que a lágrima?

Lambo teu rosto. Você ri.
Você sabe que eu nunca vou mudar.
A lágrima ganha volume e vira várias.

O abraço apertado só afasta mais. É a hora errada. Nosso tempo passou. A gente ainda se mede pelos velhos relógios.

Nosso tempo passou.
Nosso tempo passou. Rápido demais.
A gente ficou menor que a vida. No começo, era o contrário.

Você olha pra janela, pra fora. E eu nunca mais vou ver o teu rosto nessa cor. Mas também não esqueço a cena. Outra foto pro álbum.

É o fim mesmo.

Você levanta e vai dormir no seu quarto. Sem me falar nada. Sem olhar pra mim.

É o fim.

Abro o olho e sua boca continua ali, parada, esperando a minha. Esperando contato.

Por mim, ficava a noite inteira só com a tua respiração na minha boca. Só imaginando esse tanto de coisa boa pra gente.