28.4.18

Estrela grande

O céu transborda em nuvem por cima dos prédios. A lua laranja. O trem cheio. E eu penso em você.

Me deixa andar contigo até em casa? Me encontra na pracinha? Um flerte vazio. E eu penso em você.

Quando a gente começou? Onde a gente acaba? A gente vai conseguir o infinito?

A vida parece tão curta pra tanta coisa boa. E a morte é quase se libertar desses desejos.

O dedo afunda as teclas do piano e eu preciso segurar o choro. Esse ar seco de abril. O gosto de sal na tua pele.

As pessoas tristes enclausuradas em seus carros rápidos demais. Nunca vamos ser assim, te peço. Desde quando sábado virou mais obrigação que diversão?

A gente escapa dentro do outro. O olhar, o sorriso, o abraço quente. Todos refúgios secretos e nossos. Só nossos.

A cigarra e esse mato alto. A noite vai derretendo tantas certezas. Segura minha mão que é agora que trepida. Segura minha mão. Eu preciso. Preciso demais.


Salto na piscina fria. Bebo a cerveja gelada. E tua boca muda me hipnotiza. Afunda comigo. Confia em mim? Confia tanto e um pouco mais.

7.4.18

Final

Você percebe o que acontece na cidade? Você também sente? O ar tem gosto de pólvora que amarra a mandíbula.

Desesperados de verde e branco trombam com desesperados de preto e branco. Ninguém lida bem com isso. Apesar de todo convívio.

E a gente ocupa o sábado com coisas meio mortas. Coisas que nos façam parar de pensar. Mas a mente gira em falso. O desespero escorre pela testa como se não tivéssemos opção.

Hoje a gente escreve uma nova mitologia. A caneta mancha sozinha o papel. Somos protagonistas involuntários de uma história sem fim.

Quais serão nossos cantos de guerra daqui 20 anos? Amanhã a poesia responde. De um lado ou de outro, o sangue faz a jugular dar textura de mármore ao pescoço.

A cama é deserto de esperança. Um bocejo em vão. O lado mais frio do travesseiro. Você pode sofrer ou sofrer. Então escolhemos sofrer em dobro.


Um arrepio nas costas e o dia raia. O sol desperta pra algo novo e amedrontador. Essa noite vai ser infinita. Me sinto estranhamente bem. É bom estar vivo pra ver tudo isso.