15.3.14

Analgésico

Enquanto nossas carnes se chocam com alguma ternura, sinto sua perna direita tremer uma vez.

Puxo teu cabelo e com a outra mão aperto tua bunda, que agora me é o horizonte.

Com o nariz apontando pra cima, você deixa escapar um gemido abafado. Nunca estive tão dentro de você.

Teu cheiro doce flutua no ar.

Vejo a nuca e uma longa gota de suor escorre por ela.

O Sol invade pela janela e a luz gruda no teu corpo.

De leve, com a ponta dos dedos, percorro a cordilheira que é sua coluna.

Com uma caneta que não existe, ligo com retas todas as pintas das suas costas.

A gente se consome num silêncio acalentador. Não existe a necessidade pro afago dito. Nossos sexos nos bastam.

O relógio pregado na parede. Os ponteiros no chão. Outro gemido. Agora mais alto, mais de dentro.

Enquanto te preencho, o vazio no meu peito também se enche.

Aquela minha dor não existe mais. Você é meu analgésico.

Num gozo sem anestesia, despenco sedado na cama.

Você ri, louca.

E monta no meu pau, ainda duro. Te sinto quente e mais toda aquela umidade.

Gosto de sentir cada um dos teus joelhos apertando minhas costelas trincadas.

Está na hora de outra dose. Você me cuida com zelo e dedicação.


Você é minha médica. Minha cura e minha doença.