E toda essa vida?
Que acontece meio morta, dentro das casas.
A foda abafada. No quarto do lado. Pro marido não
perceber.
A punheta sofrida. No banheiro frio. Pelos e gotas de
mijo por todo canto.
Sangue na rua. O asfalto ferve.
A água quente saindo da torneira fria. O videogame
ligado, a criança sorrindo. Ela perdeu tão pouco ainda.
E as brigas. As brigas. As brigas.
O murro na parede. O roxo nas falanges.
Ela trancada no quarto. Ela trancada no banheiro. Ela
chorando no banheiro. Ela se fodendo no banheiro.
O cachorro monta a cadela no cio. Os dois com a língua
pra fora. A casinha dele é de plástico, cinza. O guardinha, ao fundo, ajeita o
saco na cueca. A grama já não cresce direito. É terra e poeira no ar.
A TV ligada e a gente esquece quem é. A gente esquece o que
tinha pra falar. A gente esquece que tinha que trepar. A gente esquece que
tinha que viver.
Dentro do carro, a mão dentro do sutiã. O seio tem aquela
textura mais macia de pele. A mão dentro da calcinha. E os dois dedos mais
sortudos. Pau duro e o jeans fica apertado. Quem passa por eles, inveja.
No armário, não tem comida. Na geladeira, não tem bebida.
Não tem mais nada.
O sol a pino. O corredor desliza no piche preto. A
camiseta molhada grudada no corpo. O rosto vermelho e grande.
A louça na pia fede. O gato fede. O tapete fede. A água
fede.
Uma parede de som e cheiro. Eu atravesso. E tem toda essa
vida aqui fora.
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