Escalada
Enquanto a tristeza profunda invade o coração e a
realidade confirma a resignação, uma voadora no peito atinge a alma.
Não ter sexo por dois dias. Não ter fodido o fim de
semana inteiro. Não ter cheiro, boca, toque, suor, gozo e porra. Não ter nada
disso faz despertar sentimentos malditos.
Naquela escalada em que não se vê o cume, você despenca
vinte metros.
Ali, dependurado, pensa: o amor é essa corda nova e já
tão esgarçada?
A garganta que já te devorou com tesão e ganas tantas
vezes hoje é só cuspe e palavrão.
Escalando teu sexo, tua pele, teus seios e peito, teu
pescoço, tua orelha e teus lábios, uma barba cresce roçando tua nuca.
Lá embaixo, naquela planície árida, devastada, o Coração
Selvagem ruge.
Faminto demais, ele já vagou pela terra inteira, mas .É.VOCÊ.QUE.ELE.QUER.
É você que hoje ele vai devorar. Não de uma só vez. Ele claramente vai te matar
aos poucos.
Enquanto te despedaça, ele canta “tome um refrigerante, coma um
cachorro-quente”. E, num outro momento, logo depois, logo menos, ele vai pedir
que você enfie o refrigerante e o cachorro-quente no rabo.
Aquela loucura toda, que te espera na queda, começa a
fazer sentido na sua cabeça. Você corta o último fio que te prende à corda.
Durante o mergulho, você pensa: Belchior estava mesmo
certo, a vida é das coisas simples.
2 Comments:
Sim, você corta porque já é outra viagem e esse coração selvagem tem essa pressa de viver e na hora do mergulho, a gente vive, corre perigo e morre também. Mas só com o que for bom.
Uma frase pra mim na sua poesia, quereres da alma, coisas simples... um coração selvagem que anda compreendendo o som, a fúria e essa pressa de viver, de você e de foder.
Lindas palavras, meu bem. Belchis e eu agradecemos.
Ruge.
Sempre. Não importa o ano.
Postar um comentário
<< Home