26.2.07

Crime Kids Gangue

Aos 8 meses, ele já era trombadinha na creche. Tinha uma técnica, puxava com cuidado as carteiras cheirando a lavanda do bolso de trás das fraldas dos coleguinhas, enquanto os mesmos se maravilhavam com o tedioso móbile.

Quando tinha 1 ano e meio, sua babá tentou processá-lo por assédio – obviamente o juiz achou que a mulher era louca e a mandou pro hospício.

Aos 3 anos já tinha roubado o sanduíche das lancheiras da maioria dos amiguinhos de escola, além de dominar o tráfico de chupetas pelo bairro. E aos 5 tinha assaltado grande parte dos buffets infantis da cidade.

Agora, aos 7, dando longas baforadas em seu robusto Partagas de chocolate, com uma pilha de dinheiro do Banco Imobiliário em cima da mesa, e saquinhos de talco embalados como se fossem cocaína, ele planejava seu grande golpe: assaltar o Banco de Leite Materno do Hospital Municipal.

Ele era viciado em leite. Obviamente, misturava whiskey e energético na mamadeira – o que potenciava sua psicose. Mas ele odiava ter que beber naquele receptáculo de plástico frio e sem textura humana. Então, sob a mira da arma, obrigava a mãe de quase 50 anos, outros 4 filhos mais novos que ele e em racionamento de leite, a amamentá-lo por dias até – devido à cafeína do energético, o lunático mirim passava semanas em claro (o pesadelo de todas as mães).

Após meses de preparação, o detalhado plano de invasão do Banco de Leite estava pronto. Em cores berrantes, que lembravam aqueles isotônicos que ele também gostava de beber misturado ao leite após se exercitar em sua piscina de bolinhas olímpica, via-se uma planta do local traçada a giz de cera e tinta guache. Com detalhes impressionantes, sua gangue, todos com menos de 10 anos, vale ressaltar, havia bolado um engenhoso plano de ação que envolvia helicópteros de controle remoto, tanques de fricção e triciclos de plástico.

Entretanto, não planejava roubar o precioso líquido produzido pelas lactantes. Ele queria, na verdade, acessar a database do Banco. Lá identificaria as mulheres que doaram leite e, em uma orgia láctea, sairia pela cidade mamando nas benevolentes mães que por compaixão haviam doado seus fluídos corpóreos.

Chega o grande dia, armados de pistolas de água, estilingues e armas de paintball, a gangue de bebês psicopatas invade o Banco de Leite. Tomados pela surpresa e pela bizarrice, os atendentes no local não esboçaram reação. Ao contrário, caíram na gargalhada, pois tinham quase certeza que se tratava de uma pegadinha.

A missão foi um sucesso: hoje o bebêzão de quase 9 anos continua a mamar a torto e a direito nas mães da cidade e até das comunidades vizinhas também. Por não possuir RG, a polícia não tem como identificá-lo e rastrear seu paradeiro.

Com isso, em uma libertação freudiana, se viu distante da tirania do seio materno.