3.4.15

Medos noturnos pelo bairro

"Tome cuidado. Eles são pilantras, pois são pilantras!"

Aquelas palavras ricocheteavam pela sua cabeça feito bola metálica dentro dum pinball.

O coração acelerou. Abriu os olhos e, reparando no teto escuro, pensou: "quem são eles? Por que eu deveria tomar cuidado? Quão pilantras eles seriam? Seriam mais pilantras que eu?"

Viu que a esposa dormia profundamente. Ele não conseguiria mais. Levantou e foi pro escritório, pro computador.

Acessou o site pornô e assistiu 3 travestis se revezarem ao enrabar um homem bem parecido com ele. Se masturbou com o consolo da mulher enfiado na bunda.

Enquanto lavava o vibrador da sua esposa com um fiapo d'água (para não acordá-la) e sabão voltou a pensar neles. Nos pilantras. O coração batucava dentro do tórax. Respirou profundo. Colocou, com carinho, o aparelho dentro do saco de veludo roxo e o guardou, com cuidado, dentro do criado-mudo dela.

Ela se revirou na cama e balbuciou coisas incompreensíveis. Quase teve um treco.

Num raro ato de coragem, resolveu então que sairia pra rua, às 3 da madrugada, e enfrentaria todos os pilantras que encontrasse. Seria com a mão nua. Ou a pontapés.

Não encontrou nenhum.

Caminhou até uma grande praça, pouco arborizada, e vandalizou todas as mudas, recém-plantadas pelo vizinho que ele mais odiava.

Ao longe, o apito intermitente do vigia o colocou numa espécie de transe, de torpor.

Abaixou as calças e sacou a rola. No breu que era seu bairro, nunca ninguém o veria. Esfregou o pau nas maçanetas das portas e portões de toda vizinhança. Com exceção feita apenas à casa da mãe, que morava duas ruas pra cima.

Ao virar a esquina, com o caralho na mão e um sorriso no rosto, deu de cara com o vigia. Não pensou duas vezes e, ainda com o pinto rodando a esmo no ar, empurrou o guardinha da bike. Subiu, sentou esmagando sem querer  o saco e pedalou o mais rápido que pode.

Numa ladeira, se apoiou nos pedais e ficou em pé, igual fazia quando era criança. Com o vento entrando pelas mangas, a camiseta inflou. Um desespero subiu serpenteando sua espinha. Quase caiu da bicicleta. Concluiu que sua vida era mesmo uma grande merda. Chorou pela filha tatuada e lésbica, chorou pelos cornos que levou, chorou pela cor da sua conta no banco.

Chegou em casa com o dia nascendo. Escondeu o veículo roubado no depósito, tomou banho, preparou o café da manhã pra família, escalou sua SUV e foi trabalhar.

Olhou pelo retrovisor uma mancha que parecia ser terra na gola da camisa. Distraído, invadiu sem querer a ciclovia e quase atropelou uma pessoa.

1 Comments:

At 8:01 PM, Blogger Carol Ornellas said...

amigo!!!

 

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