Medos noturnos pelo bairro
"Tome cuidado. Eles são pilantras, pois são
pilantras!"
Aquelas palavras ricocheteavam pela sua cabeça feito bola
metálica dentro dum pinball.
O coração acelerou. Abriu os olhos e, reparando no teto escuro, pensou: "quem são eles? Por que eu deveria tomar cuidado? Quão
pilantras eles seriam? Seriam mais pilantras que eu?"
Viu que a esposa dormia profundamente. Ele não conseguiria
mais. Levantou e foi pro escritório, pro computador.
Acessou o site pornô e assistiu 3 travestis se revezarem
ao enrabar um homem bem parecido com ele. Se masturbou com o consolo da mulher
enfiado na bunda.
Enquanto lavava o vibrador da sua esposa com um fiapo d'água
(para não acordá-la) e sabão voltou a pensar neles. Nos pilantras. O coração
batucava dentro do tórax. Respirou profundo. Colocou, com carinho, o aparelho
dentro do saco de veludo roxo e o guardou, com cuidado, dentro do criado-mudo
dela.
Ela se revirou na cama e balbuciou coisas
incompreensíveis. Quase teve um treco.
Num raro ato de coragem, resolveu então que sairia pra
rua, às 3 da madrugada, e enfrentaria todos os pilantras que encontrasse. Seria
com a mão nua. Ou a pontapés.
Não encontrou nenhum.
Caminhou até uma grande praça, pouco arborizada, e vandalizou
todas as mudas, recém-plantadas pelo vizinho que ele mais odiava.
Ao longe, o apito intermitente do vigia o colocou numa
espécie de transe, de torpor.
Abaixou as calças e sacou a rola. No breu que era seu
bairro, nunca ninguém o veria. Esfregou o pau nas maçanetas das portas e
portões de toda vizinhança. Com exceção feita apenas à casa da mãe, que morava
duas ruas pra cima.
Ao virar a esquina, com o caralho na mão e um sorriso no
rosto, deu de cara com o vigia. Não pensou duas vezes e, ainda com o pinto
rodando a esmo no ar, empurrou o guardinha da bike. Subiu, sentou esmagando sem
querer o saco e pedalou o mais rápido
que pode.
Numa ladeira, se apoiou nos pedais e ficou em pé, igual
fazia quando era criança. Com o vento entrando pelas mangas, a camiseta inflou.
Um desespero subiu serpenteando sua espinha. Quase caiu da bicicleta. Concluiu
que sua vida era mesmo uma grande merda. Chorou pela filha tatuada e lésbica,
chorou pelos cornos que levou, chorou pela cor da sua conta no banco.
Chegou em casa com o dia nascendo. Escondeu o veículo roubado no depósito, tomou banho, preparou o café da manhã pra família, escalou
sua SUV e foi trabalhar.
Olhou pelo retrovisor uma mancha que parecia ser terra na
gola da camisa. Distraído, invadiu sem querer a ciclovia e quase atropelou uma pessoa.
1 Comments:
amigo!!!
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